É uma casa gigante.... Cheia de corredores complicados, escadas em caracol, bibliotecas carregadas de histórias. E cheia de janelas, muitas, demais...... E abri uma, e o Sol era demasiado quente, fechei de novo... Abri outra, e embirrei com o som dos pássaros que cantavam algures, fechei de novo... Abri outra, e não gostei do cheiro o vento trazia do norte, e fechei de novo.... Outra que abri dava para um jardim, relva apenas, e fechei de novo.......
Passei uma vida inteira, numa casa gigante.... Cheia de corredores complicados, escadas em caracol, bibliotecas carregadas de histórias, a abrir janelas curioso, e arranjava sempre um motivo para as fechar.
- Heiiii, está ali uma janela estranha, começa a partir do chão e vai quase até ao tecto! - Eu nunca tinha visto uma porta! E abro aquela estranha "janela que começa a partir do chão e vai quase até ao tecto", e o chão continuava até perder de vista, como que uma sala sem fim e sem tecto!
Antes de dar um passo sequer senti o Sol; era de fim de verão, não muito quente de vermelho agradável. O vento não vinha do norte, vinha de Oeste, e trazia cheiro a sal com ele. Não sei se havia relva porque o chão estava tapado por névoa. E flores, havia flores por todo o lado. E dou um passo, 2, 3, a deixar a segurança da minha casa gigante de paredes fortes. 4 passos e o mundo a mostrar-se assustador de tão amplo, de tanta coisa que podia fazer ali, e ao mesmo tempo tanta coisa que me podia acontecer! 5 passos, e o medo a crescer, 6, 7 e piso um galho que num "crack" me fez correr de volta para a segurança da minha casa e fechar a "janela que começa a partir do chão e vai quase até ao tecto" com toda a força!
Respirar fundo - Calma, foi só um galho, volta atrás e deixa a casa - E ao empurrar a porta de novo ela não mexeu, ficou sólida como as paredes da casa. Eu empurrei o máximo que consegui e ela não cedeu mais. E sem querer voltar a abrir e fechar janelas, sentei no chão, abracei as pernas, encostei a testa aos joelhos e as costas à porta, da casa gigante.... Cheia de corredores complicados, escadas em caracol, bibliotecas carregadas de histórias.....
Boa noite...